A medida, tomada em conjunto em maio pelos Ministérios da Agricultura, Meio Ambiente, Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia, visa essencialmente a capacitação dos agricultores para agregar valor a suas produções, já que o selo do governo será uma garantia de que uma mercadoria obedeceu a diversas normas análogas às adotadas internacionalmente.
A iniciativa do Governo Federal é um sinal de mudança. Um impulso oficial a um nicho crescente, mas que ainda encontra dificuldades técnicas (e tecnológicas) para ganhar escala e espaço no mercado. É o que demonstra o caso do grupo Pão de Açúcar, rede de supermercados que mais comercializa orgânicos no País. A empresa observa o crescimento deste segmento ano a ano: segundo Sandra Sabóia, gerente comercial de frutas, legumes e verduras, as vendas na rede aumentaram 40% somente no primeiro trimestre de 2009, comparado com o mesmo período do ano passado. Em 2008, o faturamento anual com a venda de orgânicos foi de R$ 40 milhões. Segundo Sandra, a saída desses produtos nas lojas da rede atingiu um crescimento consolidado de, pelo menos, 25% ao ano nos últimos cinco anos.
Para o Ministério da Agricultura, um dos principais empecilhos para o crescimento do mercado de orgânico é, além da falta de uma regulamentação unificada, uma carência de noções técnicas por parte dos produtores. “Estamos assinando um protocolo com os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia para a criação de núcleos de agroecologia nas escolas técnicas e universidades”, anunciou, durante a Rio Orgânico 2009, o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias. “Além disso, o Governo Federal já paga 30% a mais pelo produto orgânico nas compras institucionais. A inclusão desses alimentos na merenda escolar é nosso próximo passo.”
De acordo com Sandra, do Pão de Açúcar, um dos obstáculos para o desenvolvimento desse nicho é a falta de conhecimento. Ela acredita que as pessoas buscam os orgânicos quando sabem que eles fazem bem para a saúde e para o meio ambiente. “Todo mundo quer se alimentar melhor. Todo mundo quer viver mais. Se nos alimentarmos melhor, começaremos a ver melhoras reais em nós mesmos”, comenta. Além da valorização do menor impacto dos orgânicos, a gerente complementa que também “é obrigatório aumentar a escala de produção para chegar a um preço mais acessível. Somente nos Estados Unidos, são US$ 44 bilhões de faturamento ao ano. E só tende a crescer”. Ela conta que lá, assim como na Europa, esse mercado está muito mais desenvolvido, pois a produção de alimentos industrializados que levam o selo orgânico já é mais sólida. “No Brasil ele ainda é embrionário”, contrapõe. Não existem números oficiais, mas estima-se que haja um aumento de 30% ao ano na produção de alimentos orgânicos no País.
Certificação de orgânicos – O Brasil já utiliza diversos selos para produtos orgânicos, no entanto até agora não havia uma padronização em âmbito nacional. Com a nova regra criada pelo Governo Federal, que entra em vigor no ano que vem, o agricultor terá diretrizes para melhorar sua produtividade e a qualidade dos alimentos, o que deve impulsionar os orgânicos. “Ele pode levar o produto ao mercado com aquele selo, e quem compra sabe que ele produziu aquilo de forma correta”, explicou, ao site do Canal Rural, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, as mercadorias que receberem o certificado devem trazer na embalagem informações detalhadas sobre a qualidade dos alimentos.
mohu