Embora sejam raras as iniciativas da indústria frigorífica de pagar prêmios por couro de qualidade, na Fazenda Morro Vermelho, em Jaú (SP), o manejo dispensado ao rebanho – são 700 cabeças de gado nelore padrão PO e 1.500 cabeças de gado comercial – inclui cuidados especiais com o couro.
“O primeiro cuidado é na marcação a fogo dos animais”, diz o zootecnista da fazenda, Hermany Sangiovani Ferreira. “Por ser mais prática e facilitar a identificação do animal, a marcação a fogo é feita muitas vezes no lombo, o que pode compromenter a integridade da pele. Aqui, no gado PO, fazemos a marcação na perna direita ou esquerda traseira, pouco abaixo da linha da virilha do animal, como recomenda a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu)”, afirma. “No gado comercial, é marcado a fogo só o nome da fazenda; a numeração é feita com brincos.” Conforme o pesquisador Manuel Antonio Chagas Jacinto, da Embrapa Pecuária Sudeste, é comum a marcação a fogo pegar o “grupon”, que é a parte nobre do couro, do cupim para trás.
Na Morro Vermelho, outro cuidado, que vale tanto para o gado PO como para o rebanho comercial, é com a incidência de berne, considerado por Ferreira o segundo maior problema em couros, depois da marcação a fogo. “Fazemos tratamento preventivo, dando vermífugos aos animais a cada 90 dias. Com esse acompanhamento periódico, o controle da berne é muito eficaz e ainda funciona para carrapatos, que também desvalorizam o couro.”
INSTALAÇÕES
Para o zootecnista Bruno de Jesus Andrade, da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), além da marcação a fogo, é preciso ter cuidados no transporte e no manejo do gado nos currais. “O rebanho deve ser manejado no curral sem pressa, cuidando para não amontoá-los no local.” Andrade destaca, ainda, que uma lesão mais profunda pode atingir a carcaça e depreciar o animal ainda mais no frigorífico.
Além de manter a saúde do rebanho em dia, sobretudo na parte de dermatites, bernes, carrapatos, fungos e sarnas, Jacinto recomenda ficar de olho nas instalações. Além de manter o pasto limpo, deve-se trocar arame farpado por arame liso. “Se não provoca lesões acidentalmente, o arame farpado é usado pelos animais para se coçar, provocando ferimentos. Atenção também para parafusos soltos e para tábuas lascadas”, observa.
Jacinto explica que o pecuarista deve saber que o couro é um “arquivo”, o que significa que, “derrubado o pêlo”, todas as marcas acumuladas pelo animal desde o nascimento estarão lá. “O criador pode entregar um animal redondinho para a indústria, em termos de idade, peso e carcaça, mas isso não garante que o couro será de primeira linha”, afirma Jacinto. “E é por essa qualidade que a indústria poderá pagar um dia.”