Os embarques de gado em pé seguem de vento em polpa. No primeiro trimestre, o volume de bovinos vivos exportados a outros países -com destaque para Venezuela e Líbano- chegou a 86,6 mil animais, crescimento de 31% na comparação com os negócios de igual período do ano passado.
A receita em relação a igual período de 2007 “explodiu” 203%, aumentando para US$ 68,2 milhões, 26% do valor obtido ao longo de todo o ano passado com as vendas de gado do país para abate no exterior. Em 2007, houve mais embarques no segundo semestre.
O grupo Minerva, um dos líderes no embarque de boi em pé, prevê que, em 2008, esses negócios representem 15% da receita da companhia, diz o superintendente de Relações com Investidores, Ronald Aitken. Em 2007, foram 13%. Em 2006, 4%. O Minerva está entre os cinco principais exportadores de carne bovina do país.
Os números das vendas externas de gado em pé contrastam com o desempenho dos cortes “in natura” nos três primeiros meses do ano. Segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), foram embarcadas 252 mil toneladas, recuo de 10,3% ante igual período de 2007. A receita bateu em US$ 892 milhões, crescimento de 5,3%.
Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira da Indústria Frigorífica), considera um retrocesso o país crescer na exportação de matérias-primas, “não apenas de bois”, em vez de produtos com valor agregado.
Segundo ele, não existe a intenção de proibir os embarques, mas, sim, a de taxar essas vendas para dar à indústria do país “poder de competição igual” aos importadores venezuelanos e libaneses. A Abrafrigo apresentou o assunto à Receita Federal.
Dois lados
Para Ronald Aitken, do Minerva, que atua dos dois lados do balcão, a exportação de gado em pé não pressiona o preço do gado no Brasil. Estimativa da Scot Consultoria mostra que, no ano passado, os embarques de bovinos equivaleram a apenas 1,4% do abate formal. “A pecuária está atualmente num ciclo de alta”, afirma.
Para José Vicente Ferraz, diretor da consultoria AgraFNP, “do ponto de vista econômico, não há sentido” em exportar animais vivos em vez de produtos processados. Mesmo assim, considera “lamentáveis” ações que visem obstruir um canal de venda para os pecuaristas.
“Quanto mais opções de negócios, melhor para a pecuária como um todo”, afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Para ele, as exportações de gado em pé representam desafios para a cadeia produtiva de determinados Estados, em que a demanda para os embarques é mais intensa. O Pará tem liderado essas vendas.
Responsável pelas pesquisas do mercado pecuário do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP), Sergio de Zen diz ser “compreensível, mas não defensável” os frigoríficos buscarem resguardar espaço na cadeia produtiva paraense via sobretaxas. Até porque, avalia, a exportação de gado em pé não deve crescer indefinidamente.