O Globo Rural já mostrou várias reportagens sobre sistemas de produção que dispensam o uso de agrotóxico e outras formas de agressão ao meio ambiente. São técnicas alternativas de cultivo da terra, que já estão bastante desenvolvidas. Agora começam a surgir novidades também na pecuária.
A fazenda Santa Maria, em Sidrolandia, fica a alguns quilômetros de Campo Grande. Amauri Bernardes, paulista, trabalha hoje com duas propriedades no Mato Grosso do Sul. Ele gira três mil cabeças por ano nas duas e leva tudo na ponta do lápis. O maior desafio é a seca e não deixar a boiada perder peso.
Uma solução tem sido o sal proteinado, uma suplementação no cocho que faz o gado até engordar. Mas isso custa. “Há sete anos usamos esse proteico. São cerca de 400 a 430 gramas por animal e com um custo relativamente alto. Este ano nós renovamos” – contou Amauri.
No lugar do sal proteina o Amauri está usando um produto homeopático. A palavra homeopatia vem de homeo, que quer dizer semelhante, e patia, que quer dizer doença. Isso significa que uma doença pode ser curada por aquilo sua causa, através de doses muito pequenas. Como o povo diz, doses homeopáticas.
O Amauri compra o produto homeopatico já incorporado no sal mineral, que ele fornece ao gado junto com uma aveia massetada.
“Nós colocamos cerca de 150 gramas por animal. Esse gado é acompanhado durante toda a seca. A cada 50 ou 60 dias é feita a pesagem dos animais. A boiada estava com 442 quilos com cerca 30 meses de idade. Isso dava 15 arrobas em cinco quilos. Estima-se que ela ganhava 506 gramas por dia nos meses de seca” – explicou Amauri.
Do Mato Grosso do Sul a equipe de reportagem foi ao Nordeste de São Paulo, em uma cidade próxima a Presidente Prudente.
Na região há uma fazenda de vacada holandesa igual a muitas existentes no Brasil. Ela é competitiva e tem de dar lucro. Fazenda Santa Edwirges mantém cerca de 50 vacas em lactação e produz mais de 1,5 litros por dia.
Para combater verme, mosca, carrapato e berne ela usa um produto homeopático que é colocado na ração. Chega a passar muito tempo sem pulverizar o gado.
“O gado leiteiro hoje está mais ou menos em torno de 90 dias. O gado jovem está em torno de 80 dias. Já nas novilhas, mais suscetíveis ao carrapato, são pulverizadas em um intervalo de cerca 60 dias. Houve economia de mão-de-obra e aumento de produção” – contou o gerente da fazenda, Mário Xavier.
Quem dá assistência à essa fazenda é a doutora Maria do Carmo Arenales. A veterinária estava de chapelão e botina amarela. Ela está acostumada com as dúvidas que se levantam em relação a esse tratamento.
“Há oitos anos o gado é tratado com homeopatia. Os animais ainda apresenta carrapatos porque não tem como fazer uma erradicação. O que tem de fazer é um controle. Fazer com que a infestação de carrapato, de mosca de chifre, de verminose ou berne seja tão baixa de modo a não interferir na produção. A homeopatia encontra o ponto de equilíbrio entre o que causa prejuízo e o que causa imunidade” – contou.
A doutora Maria do Carmo é dona de um recém-construído laboratório homeopático em Presidente Prudente voltado para o gado. A matéria-prima passa por filtros e por passagens. A palavra-chave no lugar é diluição, que se busca com movimento e agitação para diluir ao máximo o princípio ativo de substâncias extraídas de plantas, animais, solo e metais. Após passar por máquinas vibradoras, a poção acaba em um vidrinho, mas ainda não sossego. Algumas precisam ser batidas exatamente cem vezes, no pano sobre a mesa, para chegar no ponto de energização, como diz a doutora Maria do Carmo. Depois é embalar, endereçar e remeter. Sai pacote para vários pontos do país.
Mas para nenhum outro lugar sai tanto remédio de Presidente Prudente quanto para Campinas do Sul, cidade gaúcha que está se transformando em um polo de irradiação de homeopatia para vários municípios do norte do Rio Grande do Sul, quase na divisa com Santa Catarina. A história começ