Tradicionalmente, em abril e maio, a oferta de animais criados a pasto costumava atingir os maiores volumes.
Neste ano, porém, não se constata esse movimento. O nível de oferta no mercado pecuário brasileiro não só impediu retrações dos preços como os levou a atingir novos recordes. A análise é da equipe do Cepea/USP.
No dia 7 de abril, o Indicador do boi gordo ESALQ/BM&F (estado de São Paulo) fechou a R$ 77,30, o maior preço nominal registrado pelo Cepea desde o início do levantamento da arroba, em março de 1994. Até então, o maior valor havia sido observado em dezembro de 2007, de R$ 77,29. Fechando em R$ 77,55 no dia 30, no acumulado de abril, a alta do Indicador foi de 0,91%, movimento contrário ao observado no mesmo período de 2007, quando houve recuo de 1,34%.
Além da diminuição do volume de animais, pecuaristas que tinham lotes prontos para abate estiveram resistindo às vendas, na expectativa de obter valores ainda superiores. Nesse contexto, frigoríficos de São Paulo e das outras regiões consultadas pelo Cepea seguiram com escalas reduzidas e, em muitos casos, também intercaladas.
A baixa oferta de animais no estado de São Paulo fez com que frigoríficos paulistas intensificassem as compras de boi gordo em outros estados onde a oferta, apesar de pequena, mostrou-se comparativamente maior, como é o caso de Mato Grosso do Sul. O aumento da demanda nesse estado fez com que, no acumulado de abril, as variações nas praças sul-mato-grossenses fossem maiores que as das paulistas, aproximando os valores da arroba desses dois estados.
Enquanto a média de São Paulo a prazo registrou acréscimo de 0,98% em abril, em Três Lagoas a arroba subiu 3,4%. No dia 30, a arroba média a prazo em São Paulo esteve a R$ 78,57 e em Três Lagoas a R$ 75,15.
Entre as praças pesquisadas pelo Cepea, o maior aumento nos preços da arroba no decorrer de abril, de 6,35%, foi observado em Tocantins, com o valor médio saindo dos R$ 67,89 no dia 31 de março para R$ 72,20 em 30 de abril. Nessa região, o valor máximo a prazo foi de R$ 72,67 no dia 18 de abril. Já as menores altas em abril foram registradas nas praças paulistas, de 0,36% em São José do Rio Preto, com a arroba passando para R$ 78,68 no dia 30.
Há de se considerar, contudo, que frigoríficos mostraram forte resistência aos aumentos dos preços acima dos intervalos registrados e a para pagar os valores máximos. Além de limitar as altas das médias diárias, esse posicionamento reforçou a lentidão dos negócios.
Com menos abates, a carne com osso negociada no atacado da Grande São Paulo também valorizou, atingindo novo recorde no início de abril. A carcaça casada do boi foi negociada no dia 7, em média, a R$ 4,70/kg a prazo, o maior valor nominal desde o início da pesquisa, em janeiro de 2001. No acumulado de abril, a carcaça casada de boi subiu 3,09%. Com os aumentos superiores aos do boi, a diferença entre o preço da carne e o da arroba do animal reduziu, de R$ 10,12 em março para R$ 8,66 em abril, com o valor médio da arroba de boi a R$ 78,11 e o de carne, a R$ 69,45.
Preocupados com a oferta futura de animais, sobretudo para outubro e novembro, frigoríficos estiveram procurando fechar contratos antecipados com pecuaristas. Com isso, muitos agentes procuram atrelar seus negócios para entregas futuras a contratos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Além dos preços, a quantidade de contratos negociados na BM&F também aumentaram significativamente.
Em abril deste ano, o volume de contratos futuros de boi gordo negociados na BM&F foi de cerca de 40 mil, 61% a mais que no mesmo período do ano passado. No dia 30 de abril, os contratos de boi gordo em aberto na BM&F correspondiam em torno de 30% do total de contratos agropecuários negociados na Bolsa (aproximadamente 127 mil). O boi gordo continuou sendo a mercadoria (agropecuária) mais negociada no mercado futuro brasileiro, seguido pelo contrato de café arábica.
Conforme dados BM&F, 52% ou 21.160 dos 40.430 contrato