HIGHGATE,Vermont – Mastigando sua ração em uma manhã ensolarada, Libby, uma vaca Holstein de 635 quilos, pausou para fazer sua parte na batalha contra o aquecimento global, emitindo um fragrante arroto.
Libby, de 6 anos, e as outras 74 vacas leiteiras da fazenda de Guy Choiniere estão no centro de uma experiência para determinar se uma mudança na dieta as ajudará a produzir menos metano, gás que retém o calor e está ligado à mudança climática.
Desde janeiro, as vacas de 15 fazendas em Vermont, nordeste dos EUA, tiveram sua ração adaptada para incluir mais plantas, como alfafa, e semente de linhaça – substâncias que, ao contrário do milho ou da soja, imitam o capim que evolução levou esses animais a comer há muito tempo.
Segundo a última medição, em maio, a produção de metano do rebanho de Choiniere caiu 18%, e a produção de leite se manteve estável.
O programa foi iniciado pela fabricante de iogurte Stonyfield Farm nas fazendas de Vermont que lhe fornecem leite orgânico em 2003, disse que gostou da iniciativa antes mesmo de ver os resultados finais. “Elas [as vacas] estão mais saudáveis”, comentou. “Têm o pelo mais brilhante, e seu hálito está doce.”
Adoçar o hálito das vacas é uma questão de certa urgência, segundo cientistas climáticos. As vacas têm no estômago bactérias digestivas que as fazem arrotar metano, o segundo gás que mais retém o calor, depois do dióxido de carbono. Embora seja muito menos comum na atmosfera que CO2, ele tem uma capacidade 20 vezes maior de reter o calor.
Frank Mitloehner, professor na universidade da Califórnia em Davis que coloca vacas em tendas herméticas e mede o que ele chama de “erupções”, diz que uma vaca média expele – principalmente nos arrotos, mas também na flatulência – de 90 a 180 quilos de metano por ano.
Como a produção de leite e carne deverá dobrar nos próximos 30 anos, a ONU disse que o gado é uma das mais sérias ameaças ao clima global em curto prazo. Em relatório de 2006, o organismo estimou que as vacas podem ser mais perigosas à atmosfera da Terra que caminhões e carros juntos.
A Dairy Management Incorporated, filial de pesquisa e promoção da indústria de laticínios dos Estados Unidos, diz que representam apenas 2% das emissões do país de gases do efeito estufa.
Mas Erin Fitzgerald, diretora da Daiary Management, disse que a indústria quer evitar a possibilidade de que os clientes comparem os laticínios às usinas a carvão, por exemplo. A entidade lançou o programa “vaca do futuro”, que procura maneiras de reduzir as emissões do setor em 25% até o fim da próxima década.
William R. Wailes, diretor do departamento de ciência animal da Universidade Estadual do Colorado, que trabalha com o programa, diz que os cientistas estão examinando tudo, de genética – vacas que naturalmente arrotam menos – até adaptar as bactérias do estômago bovino.
Por enquanto, apontou Wailes, as mudanças na ração têm sido mais promissoras.
A Stonyfield Farm, que começou como uma operação para angariar fundos para uma escola de laticínios sem fins lucrativos, trabalha no programa há mais tempo. Nancy Hirschberg, vice-presidente de recursos naturais da Stonyfield, encomendou uma avaliação completa do impacto de sua empresa na mudança climática em 1999, que se estendeu às emissões de alguns de seus fornecedores.
“Fiquei chocada quando li o relatório, porque ele dizia que nosso maior impacto é a produção de leite. Não a queima de combustível no transporte ou na embalagem, mas a produção de leite. Ficamos abalados”, disse Hirchberg. A partir daí, ela começou a procurar uma forma de fazer as vacas emitirem menos metano.
Uma solução potencial foi apresentada pelo grupo Danone da França, que comprou uma participação majoritária na Stonyfield Farm em 2003. Os cientistas que trabalham com o grupo estudaram por que suas vacas pareciam mais saudáveis e produziam mais leite na primavera. A resposta, segundo cientistas, era que o capim na primavera tem mais ácidos graxos ômeg