“Não fala com pobre, não dá mão a preto, não carrega embrulho, infarto te pega doutor acaba esse orgulho…”
A vaidade é assim, põe o tonto no alto retira as escadas fica por perto esperando sentada, cedo ou tarde ele acaba no chão.
“Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do tonto, afinal todo mundo é igual, quando o tombo termina com terra por cima e na horizontal…”
Como ironicamente escandaliza João Bosco nesta melodia, na voz sarcástica da cantora Elis Regina, no fundo, no fundo, passamos por várias e sérias fases de elaboração de um dia, nossa certa morte, ou da morte de algum de nossos entes mais queridos. Não temos como nos defender desta realidade. A não ser seguindo um único caminho, que de início tentamos evitar. Negamos, revoltados ou não, tentando barganhar com tudo e com todos, principalmente com Deus, uma grande vitória, contra esta fatalidade certa que é a morte, e então sentimos muito medo desta etapa desconhecida.
E por fim, vamos nos deprimir e certamente vamos ter que passar por ela, a depressão, se quisermos sofrer menos quando presenciarmos a morte de alguém que amamos muito ou então quando chegar o “nosso certo fim”.
A depressão (luto) é essencial para se poder aceitar a morte ou para se ajudar alguém a morrer em paz.
Como bem nos enfatiza o psicanalista Gilberto Safra no “amortecer” de um jovem com leucemia de 25 anos de idade: Ele não queria aceitar a sua própria morte. Ainda era cedo demais para ele, encontrando-se num grande estado depressivo. Este paciente só pôde morrer quando a sua mãe apareceu-lhe pronta para dizer isto a ele: “Meu filho existem flores que só abrem uma vez na vida e somente por um dia, mas a beleza e a intensidade que elas nos transmitem são tão grandes que se supera o fato delas não viverem por bastante tempo: E você, para nós, foi como uma destas flores que se abriu e viveu tão intensamente que não foi preciso viver mais do que esses poucos anos que já viveu. Você ficará para sempre em nossos corações”. E foi assim que esse jovem rapaz pôde aceitar a sua morte e logo em seguida, veio a morrer em paz.
Quando ainda não se pode falar sobre a morte (“nega-se”) é importante se respeitar e ficar em silencio até que se possa deprimir, brigar, barganhar com Deus ou com todos, para que depois possa se falar sobre ela e aceitá-la como fim inevitável. Basta nos cuidarmos, nos respeitarmos e buscarmos compreender, sempre que pudermos, por nós, e pelo outro que amamos, e esperarmos o tempo correto para se, enfim, compartilharmos desta necessária hora.
Fonte: José O. Cervantes Loli – Médico Endocrinologista e Metabologista. Membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). Membro da ABMP (Associação Brasileira de Medicina Psicossomática-SP).
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